Noticias

As Linhas do dr. Portas

As linhas do dr. Portas

por NUNO SARAIVA


Do que estamos a tratar não é de gente privilegiada, com pensões bastardas ou abusivas porque não descontou para elas. Do que estamos a falar é de pessoas que trabalharam a vida inteira, descontando aquilo que o Estado lhes exigiu, na expectativa mais do que legítima de, chegada a idade da reforma, auferir a remuneração que lhes é devida.
E é também uma questão moral. Invocar, como tantas vezes se faz, a solidariedade entre gerações para justificar o "assalto" às reformas de quem ganha acima dessa fortuna que são 600 euros mensais é, como já aqui escrevi, criminoso. Como dizia, em maio, o dr. Portas, por ventura "num ato de dissimulação", são aos milhares os avós que ajudam os filhos desempregados a cuidar dos netos. E isto também é solidariedade entre gerações. É, aliás, normal que os mais novos e ativos sejam chamados a contribuir para o financiamento do sistema de segurança social que paga as pensões daqueles que entretanto se reformaram, após cumprirem a sua carreira contributiva, mesmo sabendo que, é mais que certo, não terão acesso ao mesmo nível de pensões daqueles que hoje as recebem.
Dito isto, é absolutamente claro que para o dr. Portas não existem linhas inultrapassáveis nem compromissos irrevogáveis. De agora em diante, o CDS, que reclamava, e bem, os louros de ter contribuído para o descongelamento das pensões mínimas, sociais e rurais, será reconhecido por ter sido cúmplice da inadmissível rutura total do contrato social até agora existente.
De há dois anos e uns trocos a esta parte, somos confrontados com o discurso da inevitabilidade e com a punição por termos vivido acima das nossas possibilidades. Sabemos, por mais que agora se tente negar, que o objetivo sempre foi o empobrecimento de trabalhadores e reformados. E desconfiamos que, desde logo por falta de equidade, este será mais um diploma a esbarrar no Tribunal Constitucional. Afinal, o pretexto para mais uma vez agradar à troika e alargar o corte a todos os pensionistas, como exigido desde o início pelo FMI, pelo BCE e pela Comissão Europeia.
Uma imoralidade, enfim, ou o "cisma grisalho" que, com lágrimas de crocodilo, se fingiu querer travar.

IN DN

To Top