“[A colocação da estátua] mais não faz do que a apologia do ressentimento, a marca de água de quem sempre tem convivido mal com a democracia e a liberdade”, sublinha a petição.
Para os signatários, a estátua “nunca suscitou o aplauso dos cidadãos, sendo muito significativo o facto de não ter sido acolhida com simpatia pela Igreja Católica”.
“Esta iniciativa sempre suscitou a firme e pública objeção de amplos setores da sociedade bracarense e nacional”, acrescentam.
Dizem ainda que a estátua constituiu “uma despudorada instrumentalização do espaço público, consagrando, por oportunismo eleitoralista, uma relação pouco transparente entre o poder político e certos agentes económicos”.
“O cónego Eduardo Melo foi sempre, sobretudo, um exemplo de conúbio com os poderosos seus amigos. Nos favores e no negócio de influências residia o seu poder. Esta pretensa homenagem afronta a Memória e a Decência. Não respeita ninguém”, lê-se na petição.
No sábado, um grupo de cidadãos de Braga colocou uma estátua ao cónego Melo numa rotunda da cidade, para homenagear aquele que foi vigário geral da arquidiocese durante mais de três décadas.
Dois dias depois, houve uma manifestação exigindo a remoção da estátua e na manhã de terça-feira o conjunto escultórico apareceu vandalizado.
No pedestal, foram pintadas a vermelho as palavras “fascista”, “assassino” e “padre Max”, tendo ainda sido lançada tinta azul que atingiu a própria estátua.
A instalação da estátua foi aprovada na Câmara com os votos favoráveis do PS e com a abstenção dos vereadores da coligação Juntos por Braga.
Os contestatários da estátua alegam que o cónego Melo “ficaria conhecido, após o 25 de Abril, por ter apoiado organizações de extrema-direita, apostadas no derrube do regime democrático, através de ações armadas que vieram a acontecer, com relevantes danos e vítimas humanas, e às quais deu cobertura moral e operacional".
Dizem ainda que o homenageado era "bem relacionado com o poder económico e político locais", tendo primado a sua ação "como intermediário de interesses privados" e usado a sua "capacidade de influência em favor dos amigos e daqueles que lhe eram subservientes".
Acusam-no de ter orquestrado "ataques a sedes de partidos democráticos, como o PCP, de sindicatos e de outras organizações de esquerda", e de ter apoiado atentados bombistas, “designadamente o que vitimou o padre Max”, um sacerdote de extrema-esquerda de Vila Real, morto em 1976 em circunstâncias nunca esclarecidas.
Fonte: NM