«Comer insectos» para reforçar a segurança alimentar: esta é a orientação da FAO, que lançou esta segunda-feira um programa para incentivar a criação em larga escala de insectos, alimento rico em nutrientes, de baixo custo, ecológico e «delicioso».
Dois mil milhões de pessoas em culturas tradicionais já os consomem, mas o potencial de consumo é muito maior, considera a Agência da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação.
«A nossa mensagem é: comer insectos, os insectos são abundantes, eles são uma rica fonte de proteínas e minerais», declarou Eva Ursula Müller, directora do Departamento de Política Económica Florestal na apresentação deste relatório em Roma.
Os biliões de insectos, que se reproduzem sem parar na terra, no ar e na água, «apresentam maiores taxas de crescimento e conversão alimentar alta e um baixo impacto sobre o meio ambiente durante todo o seu ciclo de vida», defendem os especialistas.
De acordo com seus cálculos, cerca de 900 espécies de insectos são comestíveis.
A FAO enumera os benefícios da produção de insectos em larga escala: são necessários 2 kg de ração para produzir 1 kg de insectos, enquanto o gado requer 8 kg de alimento para produzir 1 kg de carne.
Além disso, os insectos «são nutritivos, com um elevado teor de proteínas, gorduras e minerais» e «podem ser consumidos inteiros ou em pó e incorporados noutros alimentos».
A criação de insectos é simples, pois pode ser feita a partir de resíduos orgânicos, tais como restos de alimentos, e também a partir de compostos e estrume.
Os insectos são extremamente ecológicos: usam muito menos água e produzem menos gases com efeito de estufa do que o gado.
O consumo de insectos, chamado de entomofagia, já é difundido e praticado há muito tempo entre culturas tradicionais em regiões da África, Ásia e América Latina.
«Um terço da população mundial come insectos, e isso é porque eles são deliciosos e nutritivos», ressalta Eva Ursula Müller.
«Insectos são vendidos nos mercados de Kinshasa, nos da Tailândia ou em Chiapas, no México, e começam a aparecer nos menus de restaurantes na Europa», argumentou.
Alguns criadores de vários continentes entenderam as vantagens e começam a tirar proveito: eles começaram a usar os insectos como ingredientes alimentares, incluindo na aquicultura e na criação de aves.
De acordo com Müller, os insectos oferecem muito mais do que apenas nutrição. Eles também são usados para dar cor e formam uma das bases da medicina tradicional em muitos países.
Para garantir a nutrição dos animais, os insectos são susceptíveis de proporcionar um complemento a outros recursos utilizados como soja e farinha de peixe.
Gabril Tchango, ministro das Florestas do Gabão, elogiou o consumo de insectos que «faz parte da vida quotidiana». Os «cupins grelhados são considerados uma iguaria nas nossas florestas», declarou, considerando que os insectos, em todas as categorias, contribuem com cerca de 10% da proteína animal consumida no Gabão.
De acordo com a FAO, «até 2030, mais de 9 mil milhões de pessoas vão precisar de ser alimentadas, assim como os mil milhões de animais criados a cada ano» para atender diversas necessidades, num momento em que «a poluição do solo e da água devido à produção intensiva de animais de pastoreio levam a degradação das florestas».
Outro argumento a favor da criação de insectos é que eles «podem ser colhidos no seu estado natural, cultivados, processados e vendidos pelos mais pobres da sociedade, como as mulheres e agricultores sem-terra. Os insectos podem ser recolhidos directamente e facilmente no seu estado natural. Os gastos ou investimentos necessários para a colheita são mínimos».
Fonte: Diário Digital