Ao divulgar a sua carta de demissão, Gaspar expôs a fragilidade do Governo, classificando como "fardo" a tarefa de Passos para liderar o Executivo. PS quer ir a Belém convencer Cavaco a convocar eleições.
Vítor Gaspar sai do Governo e será substituído pela secretária de Estado do Tesouro, Maria Luís Albuquerque. Numa atitude inédita, divulgou a carta de demissão (datada de 1 de julho). Ao fazê-lo, revelou na primeira pessoa o que se foi sabendo cá fora sobre a instabilidade interna do Governo, a sua gradual perda de poder e de confiança por parte do primeiro-ministro e a rota de colisão com Paulo Portas.
Assumindo desconforto com a contestação às suas opções, ficou a saber-se que há oito meses, a 22 de outubro de 2012, Gaspar pediu para ser substituído, pela primeira vez, "com urgência", na sequência do acórdão do Tribunal Constitucional sobre o Orçamento do Estado e da "erosão significativa no apoio da opinião pública" à sua política e em especial em relação à TSU, rejeitada também pelo CDS (cuja direção, ao comentar a substituição, não escondeu as divergências) e pelo próprio PSD.
No texto endereçado ao primeiro-ministro – e depois de reconhecer que falhou as metas e que não dispõe de "credibilidade e confiança" para "assumir as responsabilidades" que lhe cabem – Gaspar critica "a ausência de mandato para concluir atempadamente o sétimo exame regular" da troika. E lembra que só obteve esse mandato no Conselho de Ministros de 12 de maio, no qual Portas exigiu que a chamada "TSU dos pensionistas" não tivesse caráter imperativo. Mas já antes tinha a voltado a pedir para sair. Ficou até esta segunda-feira.
Já no final da carta, o ministro demissionário coloca "o fardo da liderança" sobre os ombros de Passos Coelho, dizendo ter a "firme convicção" de que a sua saída "contribuirá para reforçar a coesão da equipa governativa". Ficou por esclarecer qual foi a gota de água no mar das desautorizações que Gaspar vinha sofrendo, mas a instabilidade na coligação está nas entrelinhas.
Do gabinete do primeiro-ministro, surgiram duas notas públicas. Uma, de elogio ao "elevado sentido de Estado" de Gaspar; outra a garantir que Maria Luís Albuquerque "foi a primeira escolha", depois de ter sido admitido que Paulo Macedo passaria da Saúde para as Finanças.
A promoção da secretária de Estado a ministra tem três efeitos imediatos: a perda de autonomia política da pasta das Finanças; o reforço de Paulo Portas, que passa a ser o segundo na hierarquia do Governo; e nova dramatização do discurso por parte do PS, com Seguro a pedir uma audiência urgente ao presidente da República para voltar a exigir eleições antecipadas.
Ao tomar posse, esta terça-feira às 17 horas, no Palácio de Belém, a nova ministra, amiga pessoal de Passos, aceitará o desafio de ser a executora do eixo central da política do Governo, mas partirá "ferida de credibilidade", como sublinhou a Oposição, em particular O PS. Em causa, a polémica sobre os contratos "swap". Foi, por isso, intencional que tenha sido chamada a falar do assunto no primeiro "briefing" diário do Governo com jornalistas, ontem, quando ainda não se sabia publicamente que subiria a ministra.
Jn