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Já sou quem vocês querem que eu seja

Hungria 3-3 Portugal. Depois de dois jogos de "divórcio" com a baliza, o capitão voltou a puxar dos galões e a colocar a bola no fundo do barbante. Não foi uma qualificação de mérito. Mas foi o melhor que se conseguiu arranjar.

Quando acordou, esta manhã, Cristiano Ronaldo não estaria por certo à espera de arremessar um microfone para um lago de Lyon. Nem teria certamente em mente ver a equipa que capitaneia sofrer a bom sofrer para somar o terceiro empate na fase de grupos do Euro 2016 e passar como terceiro classificado do Grupo F aos oitavos-de-final.
O bem de Ronaldo, perdoe-se a expressão, foi o mal do coração de milhões de portugueses. Mas, mesmo com ineficácia total na conversão de livres, a realidade é que o CR7 acabou por perceber, finalmente, o seu papel determinante no seio da equipa das quinas.
Num jogo atípico, impróprio para cardíacos sensíveis com o futebol, o capitão puxou dos galões, ultrapassou no subconsciente as exibições menos conseguidas nos desafios com Islândia e Áustria e fez a diferença.
O avançado do Real Madrid voltou a ser aquilo que se espera dele: decisivo, concentrado, criterioso e um baluarte no meio de uma autêntica “montanha russa” de emoções que quase ia deitando abaixo o "castelo de cartas" de Fernando Santos.
A Selecção esteve sempre em desvantagem no marcador mas recuperou, num claro registo de transcendência face a índices de ansiedade que ameaçaram a qualificação lusa para a próxima fase do campeonato da Europa.
Começou tudo a remar para trás quando Gera abriu o activo, aos 19’. Nani reagiu, ainda dentro da primeira metade (42’), acalmando a evidência de uma equipa presa por arames do ponto de vista mental.
Fernando Santos iniciou a segunda parte com uma mexida que iria permitir, na teoria, a conquista definitiva do meio-campo e das transições em posse, tirando Moutinho e introduzindo Renato Sanches. Mas nem deu tempo para ensaiar. Dzsudzsak meteu a bola na baliza, com sorte, logo ao segundo minuto da etapa complementar e os “fantasmas” regressaram em peso ao colossal anfiteatro de Lyon.
Ronaldo protestava com a equipa – e também consigo próprio, porque um líder não se fabrica – mas voltou a recuperar o enfoque e logrou o empate, com um toque de calcanhar primoroso que deixou o veterano Kiraly fora de si.
Ora, o “tacão” do atrevimento, sem-vergonha, não foi suficiente para voltar a reorganizar as tropas do engenheiro. Logo de seguida, Dzsudzsak “bisaria” e, com o cronómetro a galopar, a queda precoce no campeonato da Europa esteve à vista.
Contudo, quando Ronaldo impõe o seu próprio bem, a bola torna-se imparável. E foi um cabeceamento digno de um extraterrestre futebolístico que o 3-3 final se fixou.
Ele sabia que toda a gente esperava que não desiludisse em campo. E que por bem a equipa seguisse o seu ideal.
Falando em “bem”, porque não dizê-lo: o “mal” do peso nas pernas de CR7 no apito final de Martin Atkinson fez-nos tão bem.

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