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Mar pode inundar zonas urbanas da Caparica e Vagueira nas próximas décadas.

Nas últimas décadas deste século, se nada for feito, a água vai entrar terra dentro na Costa de Caparica, Vagueira e parcialmente em Quarteira. É o que mostram os mapas de vulnerabilidade preparados pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa para o projecto Change.

Estudo sobre algumas das mais frágeis zonas é apresentado hoje.

No pior cenário estudado no projecto Change, a água do mar poderá inundar grande parte da Vagueira e a Costa de Caparica no final deste século. Os mapas preparados pela equipa coordenada por Filipe Duarte Santos, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (UL), mostram que em 2100 grande parte destas populações estará em zona inundável.

O estudo mais recente sobre algumas das mais frágeis zonas costeiras portuguesas é apresentado esta quarta-feira.

Os modelos científicos foram construídos com base na previsão de subida de pelo menos um metro do nível médio do mar, remetendo para os dados do relatório de 2007 do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC), que entretanto produziu um recente relatório que agrava essas projecções. Os cenários foram trabalhados para um estudo multidisciplinar sobre as dimensões sociais sobre o que chamam de "crise costeira".

O projecto Change, coordenado por Luísa Schmidt, do Instituto de Ciências Sociais da UL, aliou a ciência climática à sociologia para uma análise integrada dos problemas de natureza ambiental e social da linha de costa na Barra-Vagueira, Costa de Caparica- Fonte da Telha e Quarteira-Vale do Lobo.

Projecções para 2100

Os mapas mostram que o areal da Vagueira, distrito de Aveiro, estará sempre condenado, ao longo do século. Em caso de tempestade, na preia-mar e com marés vivas, o "galgamento" da primeira linha de costa poderá ser cada vez mais frequente. A cota de inundação está situada nos 3,1 a 3,2 metros, que será cada vez mais desafiada pela subida do nível médio do mar. Em 2025, será de 2,5 metros e em 2050 projecta-se para 2,9 metros.

À medida que o século avança, e com as informações de que os investigadores dispõem e excluindo alterações significativas da costa ao longo dos anos, as marés vivas em preia-mar poderão inundar toda a Vagueira no final do século. Neste cenário mais gravoso, a inundação atinge uma cota de 4 ,1 metros em 2100, cerca de um metro mais elevada que hoje em dia. Nesse caso, todos os equipamentos públicos sociais da Vagueira estarão abaixo desse valor, com sérios riscos de serem atingidos pela água.

Na Costa de Caparica, o cenário não é menos grave. As projecções mostram que o mar deve galgar o cordão dunar em vários pontos da Costa do Vapor à Fonte da Telha. Na primeira metade de século, os episódios de ruptura entre o mar e a primeira linha de costa prometem ser constantes em marés vivas de dias de temporal. A água pode atingir facilmente zonas de habitação da Costa de Caparica, como a Rua dos Pescadores. Basta o mar tocar na cota dos 3 metros e a água invade a aldeia da Cova do Vapor. Em 2100, nos piores cenários do projecto Change, as inundações têm uma cota de 4,1 metros mas serão constantes já a partir da década de 50 deste século, numa área de 5,6 quilómetros quadrados, atingindo escolas, habitações e até uma extensão de saúde.

A sul, na Quarteira, o problema está no ponto de entrada da água. Basta subir aos 3, 7 metros e atinge as ribeiras de Quarteira, de Almargem e de Carcavai. A marina de Vilamoura não escapa aos impactos. No longo prazo, a zona do porto de pesca de Quarteira apresenta também forte probabilidade inundação. No total, estima-se que a área alagada possa chegar aos 3,55 quilómetros quadrados, com especial significado a partir de 2080.

Ressalvas técnicas

Os investigadores do Change sublinham que os mapas de vulnerabilidade "não são condicionados pelo uso que se faz dos territórios costeiros, nomeadamente pela ocupação humana e pela existência de edificações. Negligencia-se, portanto, o património construído, à excepção das obras portuárias e de defesa costeira. Admite-se também que a morfologia do terreno não se alterará ao longo do século. Assume-se ainda que as características geomorfológicas da face de praia se prolongam ao longo de toda a vertente frontal à linha de costa".

Fonte: Renascença

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