Todos temos a certeza que o desemprego é o maior problema económico e social do País. Mas os números são sempre bons para consubstanciar o diagnóstico. Os problemas ganham dimensão, história e tendência. Ontem o INE divulgou as estatísticas de emprego do primeiro trimestre do ano e são uma catástrofe. A doença do desemprego está a alastrar e é, cada vez mais, profunda. Há 952,2 mil pessoas desempregadas que, na verdade, são mais. Os números do INE só apanham quem está à procura de emprego. Porém, há muitas pessoas disponíveis para trabalharem que desistiram de procurar. Por isso, os desempregados passam largamente a barreira de um milhão. Um novo recorde negro.
A tendência de subida mantém-se. O aumento do número de desempregados foi de 16,2% face ao primeiro trimestre de 2012 e a taxa de desemprego fixou-se em 17,7%, mais 2,8 pontos percentuais do que no mesmo período do ano passado. Ninguém consegue estancar a hemorragia. E as previsões apontam para que continue a aumentar.
O desemprego vai matar Portugal. Apenas 40% da população total está empregada. São estes 4,4 milhões que têm de aguentar o País. Isto é insustentável. Para mais quando a taxa de desemprego entre os jovens ultrapassa os 40%, o que está a empurrar uma geração para a emigração, diminuindo a parte da população com idade para trabalhar.
Como é que se salva o doente? Esta questão não tem uma resposta única. Porém, há duas certezas. Primeira, a receita financeira da Alemanha, que está a ser imposta pela ‘troika’ aos países intervencionados e que virou ‘mainstream’ na Europa, não está a resultar. Não basta garantir a estabilidade financeira numa economia, fazendo desaparecer défice orçamental e externo, para que depois, como que por magia, apareça o investimento privado produtivo, o crescimento económico e o emprego. Portugal e a maioria das economias estão em recessão ou sofre de crescimento anémico.
Segunda, é necessário reformar o Estado Social. Como está não é sustentável e é um peso para o resto da economia. O Estado Social é para continuar. É um pilar fundamental das sociedades europeias mas está parametrizado para a demografia do pós segunda guerra mundial. Tem que se adaptar a uma nova realidade em que a população sénior é a grande maioria. Sem estas mudanças, a carga fiscal continuará altíssima, afogando o sector privado, e os incentivos na sociedade estão longe de serem os mais produtivos.
A solução para o desemprego é necessariamente o crescimento económico sustentável. O modelo europeu, que Portugal também seguiu com as suas deformações, está esgotado. E a solução germânica não é expansível para o resto da Europa. O grande desafio europeu é recriar-se. Inventar um novo modelo de desenvolvimento sustentável. E rápido porque a epidemia do desemprego está a alastrar e poderá colocar em causa os pilares da democracia. Esta crise é económica, social mas sobretudo política.
Fonte: Económico