Lá diz o ditado popular “Quem não tem cão, caça com gato”. Mais concretamente, quem não pode comprar um carro eléctrico novo, pode adaptá-lo.
Investigadores do Instituto Politécnico de Setúbal, em conjunto com a empresa portuguesa Tecnitron e a empresa Meditor, estão a trabalhar num kit de transformação do Smart Fortwo em eléctrico.
Em declarações ao TV Ciência, José Loiro, Administrador da PBG Tecnitron S.A., uma pequena e média empresa sediada em Palmela, explica que “o nosso objectivo é a reutilização de um carro em fim de vida ou em que o motor a gasolina ou a gasóleo possa ter problemas, nós aproveitarmos um carro com uma estrutura ou um chassis ainda em muito boas condições para lhe dar uma vida nova e convertê-lo para 100% eléctrico”.
Para a substituição do motor de combustão, os investigadores estudaram todos os sinais de informação que fluem entre os diversos dispositivos do automóvel.
Victor Antunes, professor adjunto da Escola Superior de Tecnologia no Instituto Politécnico de Setúbal, explica que “o objectivo deste projecto é permitir a utilização de um motor eléctrico nesta viatura em particular (Smart Fortwo) que tem uma caixa automática que é robotizada, portanto, precisa de um conjunto de informações que normalmente seriam dadas pela electrónica que controla o motor de combustão, e que neste momento não existe porque foi retirado”.
O investigador explica que agora “existe um novo controlador que é um controlador do motor eléctrico, pelo que temos que ir buscar as informações a esse controlador eléctrico e disponibilizar essa informação para o carro num formato em que o carro estaria à espera para continuar a operar normalmente, sem que o condutor se aperceba que há diferenças”.
O objectivo dos investigadores é manter os painéis de instrumentos com a mesma informação para o condutor e com o mesmo modo de condução.
“Toda a informação deve lá estar disponível, desde o estado de carga das baterias que será colocada no sítio em que normalmente surgiria o estado do depósito, o nível de combustível, informações sobre o estado de operação do sistema, se houver um excesso de temperatura ou algum problema com o controlado o condutor deve ser avisado”, explica o Vítor Antunes ao TV Ciência.
O mesmo investigador refere que “em particular a caixa que é robotizada deve continuar a meter as mudanças e a operar conforme o operador solicita”, ou seja, “quando solicita para meter a mudança acima, a caixa deve receber essa informação que vai confirmar junto com as informação que vem agora do motor eléctrico, para ver se é possível fazer essa mudança e faz a mudança de caixa”.
Um dos objectivos é manter os circuitos do veículo e para isso foram desenvolvidos sistemas que compatibilizam os sinais.
«São dispositivos electrónicos com base em microprocessadores que têm uma interface que liga com o carro. Esses microprocessadores têm por função, carregando o software, com informação de quais são as mensagens que vêm do novo controlador que é um controlador de um motor eléctrico, como é que as deve transformar para que o carro as perceba como fosse um motor de combustão normal e continue a operar normalmente”, explica o investigador.
Com as baterias finais serão feitos novos testes conclusivos. “O carro está a operar normalmente com a caixa de velocidades e estamos só já em pequenas afinações”, revela Victor Antunes, acrescentado que “nessa fase (o veículo) está numa vertente já muito final”.
“Agora será preciso que a empresa com quem estamos a colaborar, a Tecnitron, substitua as baterias pelas baterias finais para fazermos as afinações da electrónica”, conclui.
Também a Tecnitron aguarda que se procedam às afinações finais. José Loiro explica que “falta chegarem as baterias definitivas, são baterias de lítio, muito mais leves” e “a partir desse momento, o Instituto e a Meditor fará connosco a finalização e a afinação final e a partir dai vamos definir um preço de conversão, publicitar e tentar comercializar o mais cedo possível”.
Mas o Smart Fortwo não vai ser o primeiro modelo convertido. “Fizemos uma experiência com um carro com a tecnologia mais antiga que não necessitava de tanto trabalho em termos de adaptação e interface entre as duas máquinas”, explica o Administrador da Tecnitron.
José Loiro refere que esse veículo está ao serviço da empresa. “É um carro que estamos muito satisfeitos com ele já circula há cerca de 3 anos, tem 22 mil quilómetros feitos em modo 100% eléctrico, uma autonomia de 140 quilómetros e atinge uma velocidade máxima de 130 km/h na autoestrada. É um carro que pode ser carregado num tomada normal de casa de 16 amperes e que carrega ao fim de 100 quilómetros, sendo que demora seis a sete horas a carregar”.
Outra fase do projecto são os processos legais para a circulação do veículo convertido. “O primeiro carro já está legalizado pelo Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT), no livrete já consta que é um carro eléctrico, já não tem emissão de CO2”, refere José Loiro.
José Loiro acrescenta ainda que “o Smart assim que estiver pronto já com as baterias definitivas vamos submetê-lo à homologação e a partir dai ficamos com todo o projecto documentado e podemos multiplicá-lo por muitas unidades”.
Nos últimos dois anos, a Tecnitron já investiu cerca de 150 mil euros neste interessante projecto. “O investimento inicial vai ser diluído ao longo das próximas transformações e o preço final para o comprador será um preço muito mais apetecível”, argumenta José Loiro.
A Tecnitron espera disponibilizar o kit completo de transformação do Smart Fortwo para eléctrico para breve.
Fonte: e-move