"Não andarei muito longe ao encontrar um número de 250 quilos de ouro que desfilarão na mordomia. A preços de venda, estamos a falar à volta de 14 milhões de euros", avançou hoje à agência Lusa o ourives Manuel Freitas.
Trata-se de um dos maiores especialistas no ouro tradicional de Viana do Castelo e que, em 2007, fundou mesmo um museu sobre o tema. A coleção, histórica, ofereceu-a entretanto ao município, estando hoje exposta naquela cidade.
Manuel Freitas recorda que das 400 mulheres que vão desfilar a partir das 10:00 de sexta-feira no arranque da festa da cidade, cerca de uma centena, as que participam trajadas de mordomas, são as que por tradição mais ouro levam ao peito, variando entre um e 2,5 quilogramas.
Há mesmo mulheres que chegam a ostentar mais de cinco quilogramas de ouro tradicional e de família ao peito, entre peças centenárias como brincos à rainha, arrecadas de Viana, colares de contas, colares de gramalheira ou custódias.
As restantes 300 mulheres, com trajes mais simples, levam, por norma, "à volta" de 100 gramas em ouro, nomeadamente em brincos, igualmente tradicionais, ou vários cordões.
"Porque o ouro, antigamente, era a segurança social destas famílias", recorda Freitas.
Depois de fazer contas ao historial deste desfile, admite que, a preço de venda nas ourivesarias (peças trabalhadas), todas estas mulheres deverão sair à rua carregando cerca de 14 milhões de euros em ouro.
"É um cálculo que não deve estar muito longe da realidade", garante Manuel Freitas, que já leva meio século de experiência no setor.
Apesar da dimensão destes números, recorda que todo o desfile conta com segurança já que além dos agentes policiais as mulheres também são normalmente "vigiadas" por amigos e familiares. A própria população, entre os milhares de pessoas que assistem ao desfile pelas ruas da cidade, assume uma proteção "especial" destas mulheres.
Em dia de festa, o ouro pelo peito destas mordomas é praticamente "obrigatório", variando apenas a quantidade, pelo que ficou célebre o título de "chieira", ou orgulho, com que se apresentam pelas ruas e que vale a este cortejo o título de "maior montra de ouro ao ar livre".
Contudo, admite Manuel Freitas, em altura de dificuldade as famílias começam a vender cada vez mais estas peças antigas, apenas para fazer "alguns euros".
"Infelizmente esse ouro está a desaparecer das famílias. Vai tudo para o cadinho e são peças de valor incalculável. A maior parte é [vendida] só pelo valor do ouro", lamenta o ourives.
A Romaria d’Agonia de 2013 arranca na sexta-feira, com este desfile, e prolonga-se até terça-feira, 20 de agosto, feriado municipal, este ano subordinada ao tema "Caravela dor Mar", numa alusão às tradições marítimas de Viana do Castelo.
Quanto ao Desfile da Mordomia, reza a tradição, é uma forma de os organizadores apresentarem cumprimentos às várias autoridades – Estado, autárquicas e eclesiásticas -, presentes na cidade.
Fonte: NM